terça-feira, 18 de março de 2014

A Educação da Pessoa com Surdez


A construção de propostas para a educação da pessoa com surdez

Tatiane Lima de Araújo[i]

             Ao longo dos anos, no processo de escolarização da pessoa com surdez, vários embates entre propostas gestualistas e oralistas foram travados. A pessoa com surdez , em seu processo escolar, em especial no que se refere ao desenvolvimento pleno de suas capacidades intelectuais, sofreu danos historicamente comprovados, pelas práticas pedagógicas  desenvolvidas de forma descontextualizada, relegando-a a uma condição desfavorecida social e intelectualmente em relação aos demais sujeitos que passaram pelos bancos escolares.

No entanto, considerando-se uma educação voltada para a promoção do pensamento crítico-reflexivo dos sujeitos que podem ter seus processos perceptivos, linguísticos e cognitivos estimulados e desenvolvidos (DAMÁSIO e FERREIRA, 2010, p. 46), pensa-se em uma nova proposta de escolarização que leve em conta a identidade desse sujeito nos ambientes nos quais convive, inclusive a escola. Neste contexto,  o uso funcional da língua em seus mais variados veículos, exige que se pense numa proposta bilíngue de escolarização, que não reduza a pessoa com surdez ao convívio apenas com o mundo surdo, mas que lhe dê acesso a todos os bens culturais produzidos pela sociedade.

O Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação que garanta que a formação da pessoa com surdez se dê em duas línguas, orienta que a Língua portuguesa, de preferência em sua modalidade escrita, seja oferecida simultaneamente à Língua Brasileira de Sinais no ambiente escolar, de forma que colabore para o desenvolvimento, construção e reconstrução de experiências que não fiquem restritas ao contato com as línguas, mas que promovam o acesso todas as vivências conceituais experimentadas pela coletividade do alunado.

Percebendo-se a necessidade de se considerar a diferença como um fator de enriquecimento, tendo em vista que nós seres humanos temos em comum a convivência, as experiências nas relações e a linguagem como meio de apropriação da cultura, não se pode deixar de levar em consideração as marcas da identidade surda existentes em comunidades, que, por exclusões históricas resistem a uma mudança de paradigma que permita a todos o acesso ao uso de línguas que os aproximem, bem como a ambientes comuns de convivência, como é o caso da escola, desde a educação infantil.

Torna-se então, urgente trazer para discussão, desde o sistema amplo que rege as redes de ensino, até o espaço escolar mais íntimo de cada realidade, espaços de debate que exponham as divergências e convergências que aparecem no diálogo até então estabelecido, na tentativa de incorporar novos elementos que ressignifiquem as práticas educacionais adotadas. O que se pretende é que a escola leve em consideração de que as estratégias de ensino devem favorecer o desenvolvimento afetivo, social e de aprendizagem de todos os sujeitos.

 

DAMÁSIO, M.F.M.; FERREIRA, J.P. Educação de Pessoas com Surdez- Atendimento Educacional Especializado em Construção. In: Inclusão: Revista da Educação Especial. Brasília: v. 5, n. 1, p. 46-57, jan/jul. 2010    



[i] Aluna do Curso de Especialização em AEE da Universidade Federal do Ceará. Texto produzido para atender aos requisitos da Disciplina : A escolarização da Pessoa com Surdez, 18/03/2014