A construção de propostas
para a educação da pessoa com surdez
Tatiane
Lima de Araújo[i]
Ao longo dos anos, no processo de
escolarização da pessoa com surdez, vários embates entre propostas gestualistas
e oralistas foram travados. A pessoa com surdez , em seu processo escolar, em
especial no que se refere ao desenvolvimento pleno de suas capacidades
intelectuais, sofreu danos historicamente comprovados, pelas práticas
pedagógicas desenvolvidas de forma
descontextualizada, relegando-a a uma condição desfavorecida social e intelectualmente
em relação aos demais sujeitos que passaram pelos bancos escolares.
No
entanto, considerando-se uma educação voltada para a promoção do pensamento
crítico-reflexivo dos sujeitos que podem ter seus processos perceptivos, linguísticos
e cognitivos estimulados e desenvolvidos (DAMÁSIO e FERREIRA, 2010, p. 46),
pensa-se em uma nova proposta de escolarização que leve em conta a identidade
desse sujeito nos ambientes nos quais convive, inclusive a escola. Neste
contexto, o uso funcional da língua em
seus mais variados veículos, exige que se pense numa proposta bilíngue de
escolarização, que não reduza a pessoa com surdez ao convívio apenas com o
mundo surdo, mas que lhe dê acesso a todos os bens culturais produzidos pela
sociedade.
O
Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação
que garanta que a formação da pessoa com surdez se dê em duas línguas, orienta
que a Língua portuguesa, de preferência em sua modalidade escrita, seja oferecida
simultaneamente à Língua Brasileira de Sinais no ambiente escolar, de forma que
colabore para o desenvolvimento, construção e reconstrução de experiências que
não fiquem restritas ao contato com as línguas, mas que promovam o acesso todas
as vivências conceituais experimentadas pela coletividade do alunado.
Percebendo-se
a necessidade de se considerar a diferença como um fator de enriquecimento,
tendo em vista que nós seres humanos temos em comum a convivência, as experiências
nas relações e a linguagem como meio de apropriação da cultura, não se pode
deixar de levar em consideração as marcas da identidade surda existentes em
comunidades, que, por exclusões históricas resistem a uma mudança de paradigma
que permita a todos o acesso ao uso de línguas que os aproximem, bem como a
ambientes comuns de convivência, como é o caso da escola, desde a educação infantil.
Torna-se
então, urgente trazer para discussão, desde o sistema amplo que rege as redes
de ensino, até o espaço escolar mais íntimo de cada realidade, espaços de
debate que exponham as divergências e convergências que aparecem no diálogo até
então estabelecido, na tentativa de incorporar novos elementos que
ressignifiquem as práticas educacionais adotadas. O que se pretende é que a
escola leve em consideração de que as estratégias de ensino devem favorecer o
desenvolvimento afetivo, social e de aprendizagem de todos os sujeitos.
DAMÁSIO,
M.F.M.; FERREIRA, J.P. Educação de Pessoas com Surdez- Atendimento Educacional
Especializado em Construção. In: Inclusão: Revista da Educação Especial.
Brasília: v. 5, n. 1, p. 46-57, jan/jul. 2010
[i]
Aluna do Curso de Especialização em AEE da Universidade Federal do Ceará. Texto
produzido para atender aos requisitos da Disciplina : A escolarização da Pessoa
com Surdez, 18/03/2014